quinta-feira, 26 de junho de 2014

Sobre o ensino superior público no Brasil

Artigo
Por Milena Chaves

Refletindo sobre o resultado da OAB e sobre a conquista de alguns amigos, resolvi expressar alguns questionamentos sobre a realidade nas instituições públicas de ensino superior no Brasil. Na minha vida já tive oportunidade de experimentar um pouco a realidade de alguns cursos: História, Jornalismo, Letras e Direito (nesse experimentei 2 faculdades distintas), em 3 Universidades diferentes: UFRN, UEPB e UFCG. Isso, de alguma forma, me confere um conhecimento de causa sobre o item, não acham? Pois bem, o que tenho a dizer é que a realidade nas três instituições pelas quais passei têm o dia a dia bem parecidos. Só tive oportunidade de sentir e, por isso refletir, sobre a situação nos cursos da área de Ciências Humanas, portanto me permito falar apenas sobre ela.

Fazendo uma reflexão bem superficial (caso contrário não seria um artigo, e sim um livro), acredito que nos últimos anos as políticas de incentivo ao ingresso de alunos nas Universidades permitiu a oportunidade para muitos estudantes, isso é ótimo! Mas, apesar de ouvir falar sobre investimentos e até constatar melhorias físicas (prédios, bibliotecas), não acredito que essas melhorias tenham acompanhado o crescimento numérico em relação ao índice de vagas nas instituições.

Deixo aqui minhas considerações, repito, apenas sobre instituições públicas, já que jamais fui aluna de uma Universidade Particular, e sobre elas só conheço as opiniões de amigos, coisas que ouço falar por aí.

Em minha opinião, falta bastante coisa nas Universidades Públicas. Aí não posso afirmar sobre questões de verbas mandadas do governo federal, nem tampouco sobre administrações locais, pois não tenho embasamento pra isso e com certeza teria que fazer uma investigação sobre o assunto, o que não é o caso.

Seguindo, nessa minha viagem acadêmica, lembro que vivi uma situação que jamais poderia imaginar lá no ensino médio, quando sonhava em ser jornalista, juíza, psicóloga... Porque no ensino médio a gente fantasia uma Universidade que não existe! Uma situação que confirmo passei em TODAS as universidades que eu frequentei: a falta de aulas. Aqui posso citar como motivos os mais variados, falta de professores (me refiro à falta do dia de trabalho mesmo), ausência de professores pra lecionar aquela disciplina também (chegando ao ponto de em determinada ocasião, o professor só chegar quase no fim do semestre), sem falar em aulas que duravam no máximo 30 minutos, pelas mais diversas desculpas impostas a nós. Nesse aspecto, encontrei muitos mestres, que não tinham a menor responsabilidade conosco e que nunca avisavam com antecedência que iriam faltar. Lembro-me que várias vezes acordei às 5 horas da manhã, enfrentei a estrada logo cedo, pegando dois ônibus, e ao chegar lá no Campus descobri que não teria nenhuma aula naquele dia. Isso aconteceu e provavelmente ainda acontece não apenas lá, como em outros lugares por aí afora. São tantas as histórias de descaso com os alunos, que eu seria prolixa ao relatá-los aqui. Ah, e tem aquela história de greve né? Na verdade, entre todos os anos que estive numa ou outra universidade não vivenciei uma greve de fato. Apenas senti seus efeitos, porque quando cheguei à UEPB e à UFCG, havia recém acabado uma, e portanto, o calendário acadêmico sofreu um grande atraso em relação a outras instituições que não aderiram à greve, com isso dificultando alguns processos que dependiam de prazos.

Sobre estrutura, o que eu senti é que o Campus central SEMPRE será uma melhor opção para quem quiser e puder receber uma melhor condição de ensino. É gritante o nível de oportunidades acadêmicas num campus central! São professores mais qualificados (isso não quer dizer que melhores ou mais responsáveis com o estudante, que fique claro), eventos, oportunidades de estágios, de bolsas, de emprego, de intercâmbio acadêmico e pessoal também. É outro mundo, com horizontes imensamente maiores. É claro que o custo de vida numa capital é maior, mais violência, muitos fatores influenciam nesse contexto. Mas estou tratando da parte intelectual e cultural aqui. Mas, não se enganem achando que tudo são flores porque não são! Falta professor, tem greve... E por aí vai. Apesar da melhor estrutura física, a história se repete.

Porém, gostaria de refletir também sobre as coisas que aprendi, conhecimento específico e conhecimento de mundo.  Apesar de todos os maus exemplos que tive, conheci pessoas ímpares e professores muito, muito bons! Desses, lembro com muito carinho. Pessoas que transpareciam o seu amor pela profissão e um talento para lecionar que me encantava! Essas aulas eu nunca queria perder, pois a sensação que eu tinha era de ter acabado de ler um poema. Delas eu saia inspirada e motivada! Afirmo que esses bons profissionais encontrei nas 3 Universidades por onde andei.

Todavia, acredito que isso não tem a ver com universidade, tem a ver com pessoas. Seres humanos realizados, comprometidos e que fizeram decisões corretas no âmbito profissional. Desses professores eu lembro: das frases, dos nomes e do fascínio que cada um exerceu sobre mim.  Eu acho que tinha uma “paixonite” por eles! Rsrs... Quem não? A matéria que eles ensinavam era quase coadjuvante diante da mágica de comunicar saberes! É por causa deles, que eu tenho e sempre terei um profundo respeito pelos professores, por aqueles amam e exercem essa profissão com afinco, apesar de tudo. Porque vamos combinar, ser professor não é nada fácil!

Daí eu chego ao ponto que me motivou a escrever sobre isso hoje, a conquista dos colegas que passaram no exame da OAB esses dias. Tenho certeza que na cabeça e no coração de todos eles, assim como em mim, as experiências escolares e acadêmicas passeiam como um filme. São exemplos bons e ruins! Aqueles que de alguma forma contribuíram para essa conquista, sabem lá no fundo o empurrão que deram, e por outro lado aqueles (que não costumam cumprir seu papel no trabalho e na sociedade), devem fazer um exame de consciência, ou talvez nem isso.  Uma conquista é feita de altos e baixos, pessoas, experiências, sorrisos e lágrimas.

E reiterando o que disse numa conversa, das muitas que tenho sobre o assunto com um amigo, eu afirmo que uma Universidade apenas, não pode ter a sua qualidade medida por aprovação em concursos. Porque a grande maioria dos estudantes que atualmente passam em bons concursos, estudam arduamente em casa e empregam valores altos em cursos preparatórios presenciais ou pela internet. Isso é fato! Muitas vezes esses estudantes frequentam os bancos das universidades (seja lá qual for), apenas para conquistarem a formalidade do diploma, que muitas vezes é exigido em algum certame. Não subestimo a capacidade, a presteza ou a dedicação de muitos funcionários, professores, das pessoas de um modo geral. Mas, o que eu percebo é isso: gente se acabando de estudar, ler e gastar dinheiro para conseguir realizar seus sonhos e cumprir seus objetivos. Portanto, aos que se empenharam tanto, o meu respeito. E com ele também a minha admiração aos que de alguma maneira usam seu cargo ou função para ajudar as pessoas em sua caminhada na vida. Vocês realmente fazem a DIFERENÇA.




Nenhum comentário:

Postar um comentário