sábado, 17 de setembro de 2016

A arte de ser artista

Hoje eu acompanhei alguns fatos sobre a despedida ao ator Domingos Montagner (morto na última quinta-feira 15, nas águas do Rio São Francisco), e por ser ele um artista, muitos depoimentos e imagens exaltavam a sua veia cênica e circense. Claro, tudo isso comove mais, além de saber que uma pessoa boa se foi, um pai, um esposo amoroso. 

Fato que esta questão toda me fez pensar sobre a alma do artista, um ser que se desprende de si para interpretar papéis, que estuda - mas que tem muito da intuição para ser o que é e quem precisa ser. O artista é um ser muito sensível, que percebe as vibrações muito mais fortemente, e por isso, na maioria das vezes é tocado pela vida de uma forma mais visceral e espontânea.

Eu admiro todas as formas de arte!

Isso tudo me fez refletir sobre a ínfima valorização que os artistas recebem diante do real valor de seu trabalho. Não falo sobre os artistas de grande destaque, os que têm contratos milionários (porque estes já têm reconhecimento), nada disso. Falo dos artistas que levam a sua arte com carinho e dificuldade, que às vezes desistem pelo caminho, perdem as forças. Alguns tem naquela arte apenas um suporte emocional, uma forma de descarregar seus demônios e desejos. Outros se escondem, nem se deixa ser notados, alguns nem sabem que artistas são.

Daí eu lembrei que temos artistas em nossa cidade, é claro que nem todos conhecemos. E refleti sobre o quanto não valorizamos essas pessoas diariamente. A maioria de nós nem sabe o que eles realmente fazem: se  cantam ou pintam, se desenham, se escrevem ou se esculpem.

Lembrei de ter recebido um desenho um dia, de alguém que eu via, porém não notava. Um rapaz que estava a me observar e eu nunca havia percebido. Ele me fez de costas, num desenho muito bonito, e no seu silêncio guardou sua obra; somente naquele dia enfim me revelou.

Surpresa e lisonjeada, recebi, guardei, emoldurei. Percebi o quanto somos cegos, mesmo enxergando! Porque eu era observada e não percebera; isso talvez nos aconteça todos os dias, não é mesmo? Talvez eu nuca saberia que ele havia me desenhado, se ele mesmo não viesse até mim.

Eu vi a sua simplicidade ao se aproximar com respeito, e me senti muito apreciada como mulher ao contemplar o seu presente. Em tempos em que percebemos exemplos diários de desrespeito à mulher e ao ser humano, resgatei em seu gesto admiração e zelo e me iluminei. 

Hoje ao relembrar, me iluminei com essa doce lembrança e pedi aos céus que encha de luz todos os artistas (inclusive a alma de Domingos, que transparecia ser uma pessoa do bem- todos o descrevem: "doce"), e em especial a este sobre o qual falo expressamente neste texto - autor da minha imagem desenhada, e que ilumine todos nós também. Nós todos estamos cada vez mais imersos numa escuridão de realidade conflituosa e violenta, que nos turva a visão e sabedoria. Vivemos tempos líquidos.

O desenho é este: "A Garota do Ônibus", o autor Josenildo Medeiros, um acariense com muito talento!




Exaltemos então a arte.

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