Hoje eu ouvi uma palavra logo cedo ao despertar: cabresto.
A palavra permaneceu ecoando em meu pensamento o dia todo, não sei se porque a ouvi num volume bastante alto para quem acabara de acordar num "7 de setembro", ou se por um motivo banal e qualquer que não me permito entender. Fato é que não consegui esquecê-la ao longo do dia.
O contexto que a palavra foi proferida - e aqui me abstenho de conhecer ou citar o autor desta,
por entender que para o fim que se presta no momento não será necessário e, sobretudo, não deixará nenhuma lacuna semântica.
Voto de Cabresto
Segundo o Google - é um sistema tradicional de controle de poder político através do abuso de autoridade, compra de votos ou utilização da máquina pública. É um mecanismo muito recorrente nos rincões mais pobres do Brasil como característica do coronelismo. Para mais informações clique aqui.
Pois bem. Falar sobre esta prática atualmente traz à tona inúmeros diálogos, pois teoricamente o Brasil desenvolve uma democracia, na qual o povo livre, vota ao seu total arbítrio de forma secreta e soberana (voto garantido pela CF/88), e tem hoje uma legislação eleitoral estabelecia que garante direitos sob a luz desta Constituição.
No Brasil de outrora (século XIX), o coronel utilizava seu poder econômico para garantir a sua própria eleição ou dos candidatos que apoiava, ou seja, o voto estava muito e diretamente envolvido com as condições financeiras, econômicas e sociais do eleitor/ candidato/ coronéis. Em muitos casos o eleitor tinha a sua vida diretamente influenciada por aquele voto e pelo resultado daquela eleição (não que hoje não tenham também). Eram relações de extrema obediência, considerando a sociedade da época.
Na "República Velha" o povo tinha o seu voto direcionado a alguém ou a determinado partido porque apresentava uma relação de dependência para com aquele regime, de alguma maneira devia algum favor a alguém (ao patrão, ao empregador, ao coronel), esperava algum benefício, pois tinha laços de gratidão ou serventia. Em muitos casos, recebia daquele algum valor em troca do seu voto; isso quando não recebia ameaças, era alvo de represálias ou perseguição. Tempos bem difíceis aqueles!
Hoje, infelizmente ainda percebemos muitos traços como os citados acima no trâmite eleitoral brasileiro. Talvez não de forma tão nítida ou com tamanha agressividade (física) como antes, porque os tempos são outros, e apesar de todos os problemas das mais variadas ordens que o país enfrenta, temos agora um pouco mais de seguridade jurídica, e o coronéis teoricamente se extinguiram.
Porém, é possível enxergar as dependências que este dia 7 de setembro abarca. Aqui, ali e em qualquer lugar deste país é provável constatar a compra de voto, a promessa de emprego, ou qualquer tipo de coerção relacionada à troca de um benefício (seja ele qual for) por um voto. Ninguém é capaz de provar, mesmo sabendo que exista.
O cabresto de outrora vive, perdura. Não se engane leitor, apenas fora reformado ou maquiado. Talvez não possa se apresentar com as mesmas vestimentas do passado, tenha um certo receio de manter-se como era. Muito provavelmente, em 2016 recebeu uma tinta nova, se revestiu de outros discursos, aprendeu novas palavras; quem sabe possua hoje outra cor, outra música, mas sempre esteve, está e estará aqui.
Onde falta dignidade para o povo comum (simples), sobra espaço para o dinheiro comprar o que puder.

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