Artigo
Por Milena Chaves
Refletindo sobre o resultado
da OAB e sobre a conquista de alguns amigos, resolvi expressar alguns
questionamentos sobre a realidade nas instituições públicas de ensino superior
no Brasil. Na minha vida já tive oportunidade de experimentar um pouco a realidade
de alguns cursos: História, Jornalismo, Letras e Direito (nesse experimentei 2
faculdades distintas), em 3 Universidades diferentes: UFRN, UEPB e UFCG. Isso,
de alguma forma, me confere um conhecimento de causa sobre o item, não acham? Pois
bem, o que tenho a dizer é que a realidade nas três instituições pelas quais
passei têm o dia a dia bem parecidos. Só tive oportunidade de sentir e, por isso
refletir, sobre a situação nos cursos da área de Ciências Humanas, portanto me permito falar
apenas sobre ela.
Fazendo uma reflexão bem
superficial (caso contrário não seria um artigo, e sim um livro), acredito que
nos últimos anos as políticas de incentivo ao ingresso de alunos nas
Universidades permitiu a oportunidade para muitos estudantes, isso é ótimo! Mas,
apesar de ouvir falar sobre investimentos e até constatar melhorias físicas
(prédios, bibliotecas), não acredito que essas melhorias tenham acompanhado o
crescimento numérico em relação ao índice de vagas nas instituições.
Deixo aqui minhas
considerações, repito, apenas sobre instituições públicas, já que jamais fui
aluna de uma Universidade Particular, e sobre elas só conheço as opiniões de
amigos, coisas que ouço falar por aí.
Em minha opinião, falta
bastante coisa nas Universidades Públicas. Aí não posso afirmar sobre questões
de verbas mandadas do governo federal, nem tampouco sobre administrações
locais, pois não tenho embasamento pra isso e com certeza teria que fazer uma
investigação sobre o assunto, o que não é o caso.
Seguindo, nessa minha viagem
acadêmica, lembro que vivi uma situação que jamais poderia imaginar lá no ensino
médio, quando sonhava em ser jornalista, juíza, psicóloga... Porque no ensino
médio a gente fantasia uma Universidade que não existe! Uma situação que
confirmo passei em TODAS as universidades que eu frequentei: a falta de aulas.
Aqui posso citar como motivos os mais variados, falta de professores (me refiro
à falta do dia de trabalho mesmo), ausência de professores pra lecionar aquela
disciplina também (chegando ao ponto de em determinada ocasião, o professor só chegar
quase no fim do semestre), sem falar em aulas que duravam no máximo 30 minutos,
pelas mais diversas desculpas impostas a nós. Nesse aspecto, encontrei muitos mestres,
que não tinham a menor responsabilidade conosco e que nunca avisavam com
antecedência que iriam faltar. Lembro-me que várias vezes acordei às 5 horas da
manhã, enfrentei a estrada logo cedo, pegando dois ônibus, e ao chegar lá no
Campus descobri que não teria nenhuma aula naquele dia. Isso aconteceu e
provavelmente ainda acontece não apenas lá, como em outros lugares por aí
afora. São tantas as histórias de descaso com os alunos, que eu seria prolixa
ao relatá-los aqui. Ah, e tem aquela história de greve né? Na verdade, entre
todos os anos que estive numa ou outra universidade não vivenciei uma greve de
fato. Apenas senti seus efeitos, porque quando cheguei à UEPB e à UFCG, havia
recém acabado uma, e portanto, o calendário acadêmico sofreu um grande atraso
em relação a outras instituições que não aderiram à greve, com isso
dificultando alguns processos que dependiam de prazos.
Sobre estrutura, o que eu
senti é que o Campus central SEMPRE será uma melhor opção para quem quiser e
puder receber uma melhor condição de ensino. É gritante o nível de oportunidades
acadêmicas num campus central! São professores mais qualificados (isso não quer
dizer que melhores ou mais responsáveis com o estudante, que fique claro),
eventos, oportunidades de estágios, de bolsas, de emprego, de intercâmbio acadêmico
e pessoal também. É outro mundo, com horizontes imensamente maiores. É claro
que o custo de vida numa capital é maior, mais violência, muitos fatores
influenciam nesse contexto. Mas estou tratando da parte intelectual e cultural
aqui. Mas, não se enganem achando que tudo são flores porque não são! Falta
professor, tem greve... E por aí vai. Apesar da melhor estrutura física, a
história se repete.
Porém, gostaria de refletir
também sobre as coisas que aprendi, conhecimento específico e conhecimento de
mundo. Apesar de todos os maus exemplos
que tive, conheci pessoas ímpares e professores muito, muito bons! Desses,
lembro com muito carinho. Pessoas que transpareciam o seu amor pela profissão e
um talento para lecionar que me encantava! Essas aulas eu nunca queria perder,
pois a sensação que eu tinha era de ter acabado de ler um poema. Delas eu saia
inspirada e motivada! Afirmo que esses bons profissionais encontrei nas 3 Universidades
por onde andei.
Todavia, acredito que isso
não tem a ver com universidade, tem a ver com pessoas. Seres humanos realizados,
comprometidos e que fizeram decisões corretas no âmbito profissional. Desses
professores eu lembro: das frases, dos nomes e do fascínio que cada um exerceu
sobre mim. Eu acho que tinha uma “paixonite”
por eles! Rsrs... Quem não? A matéria que eles ensinavam era quase coadjuvante
diante da mágica de comunicar saberes! É por causa deles, que eu tenho e sempre
terei um profundo respeito pelos professores, por aqueles amam e exercem essa
profissão com afinco, apesar de tudo. Porque vamos combinar, ser professor não
é nada fácil!
Daí eu chego ao ponto que me
motivou a escrever sobre isso hoje, a conquista dos colegas que passaram no
exame da OAB esses dias. Tenho certeza que na cabeça e no coração de todos
eles, assim como em mim, as experiências escolares e acadêmicas passeiam como
um filme. São exemplos bons e ruins! Aqueles que de alguma forma contribuíram para
essa conquista, sabem lá no fundo o empurrão que deram, e por outro lado
aqueles (que não costumam cumprir seu papel no trabalho e na sociedade), devem
fazer um exame de consciência, ou talvez nem isso. Uma conquista é feita de altos e baixos,
pessoas, experiências, sorrisos e lágrimas.
E reiterando o que disse
numa conversa, das muitas que tenho sobre o assunto com um amigo, eu afirmo que
uma Universidade apenas, não pode ter a sua qualidade medida por aprovação em
concursos. Porque a grande maioria dos estudantes que atualmente passam em bons
concursos, estudam arduamente em casa e empregam valores altos em cursos
preparatórios presenciais ou pela internet. Isso é fato! Muitas vezes esses
estudantes frequentam os bancos das universidades (seja lá qual for), apenas
para conquistarem a formalidade do diploma, que muitas vezes é exigido em algum
certame. Não subestimo a capacidade, a presteza ou a dedicação de muitos
funcionários, professores, das pessoas de um modo geral. Mas, o que eu percebo
é isso: gente se acabando de estudar, ler e gastar dinheiro para conseguir
realizar seus sonhos e cumprir seus objetivos. Portanto, aos que se empenharam
tanto, o meu respeito. E com ele também a minha admiração aos que de alguma
maneira usam seu cargo ou função para ajudar as pessoas em sua caminhada na
vida. Vocês realmente fazem a DIFERENÇA.