domingo, 1 de março de 2015

Direito por quê?

Acredito que no Brasil o ensino se tornou um negócio, e diga-se de passagem, bem rentável. Com relação ao ensino do Direito isso se potencializou nos últimos anos, com a evidência que ganhou o interesse pelos concursos públicos e o fato de alguns dos mais bem pagos cargos públicos serem vinculados às carreiras jurídicas, ou exigirem em seu programa de estudo alguns conhecimentos específicos do Direito.

Atualmente o mercado influencia a todos. Visto que a sociedade contemporânea tem sua estrutura muito ligada ao consumismo. Tornou-se muito caro viver! Portanto, quando alguém pensa em viver bem, logo cogita ter uma boa condição financeira e com isso a possibilidade de um bom emprego com estabilidade é algo muito desejada. O que não quer dizer que o mercado deva interferir na academia, que desenvolve (ou deveria) um processo diferente do que o mercado oferece. A dinâmica educacional e de aprendizado que espera-se (normalmente) de uma Universidade é mais voltada para a ciência, o desenvolvimento do senso crítico, filosófico do saber. Mesmo assim, a influência que o capitalismo exerce atualmente na vida e na sociedade é tão significativa, que pode-se perceber claramente essa interferência do mercado dentro da academia, mesmo que inconsciente ou simplesmente nas atitudes e anseios dos alunos ou de alguns docentes.

É preciso refletir bastante sobre a palavra vocação e o que ela pode expressar nos indivíduos. E, mais uma vez, as questões e dificuldades enfrentadas pelas pessoas em suas casas, famílias e vida social pode (não deveria) influenciar no que cada um entende por vocação. No entanto, não descarto que de certo existem pessoas vocacionadas para o Direito, como para a Medicina a Informática ou a Biologia. Aqui falo numa perspectiva da palavra vocação (derivada do latim vocare- chamar), no sentido da pessoa ter uma inclinação para determinada área de atuação.  

Porém, cogito a possibilidade dessa pessoa acreditar que tem essa vocação para determinada área e ao se ver vivenciando essa possibilidade, repensar sua vocação pelas dificuldades, interferências ou desvios que ocorrem dentro dos cursos ou nas situações que essa pessoa venha a enfrentar no percurso para o qual acredita ser vocacionado. Outra reflexão possível pode ser feita com relação às pessoas que tem vocação para mais de uma profissão, isso é possível. Algumas pessoas gostam de várias carreiras distintas, têm aptidões para várias coisas. E daí qual o critério que elas podem usar para chegar a resposta sobre sua vocação principal? Se é que uma aptidão se sobressai a outra.

Sinceramente nos dias atuais não acredito em um interesse puro no estudo do Direito apenas por questões científicas ou do conhecimento. Não conheço uma única pessoa que estude ou deseje estudar o Direito pelo simples fato de amar esse saber. Criou-se um ambiente imaginário que doura os ares dos estudantes e das carreiras jurídicas, onde o dinheiro e a satisfação pessoal e social encantam os indivíduos, levando-os a querer fazer parte desse grupo de pessoas - o grupo seleto de “intelectuais” bem pagos que se enfiam no Direito a qualquer custo, na corrida pela estabilidade financeira. 

O ensino do direito virou um negócio, aliás um bom negócio! A possibilidade de ganhar bem e ter em seu currículo uma graduação e/ou diploma de um curso que historicamente rendeu sempre muito status no Brasil, está formando cada vez mais “técnico”, e talvez não técnicos numa perspectiva de pessoas tecnicamente aptas ao estudo específico do direito ou à função de advogar (porque essa quase ninguém quer), mas sim, técnicos em provas de concursos públicos - numa busca incessante por salários altos e uma vida mais confortável possível.


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