Acredito que no Brasil o
ensino se tornou um negócio, e diga-se de passagem, bem rentável. Com relação
ao ensino do Direito isso se potencializou nos últimos anos, com a evidência que
ganhou o interesse pelos concursos públicos e o fato de alguns dos mais bem
pagos cargos públicos serem vinculados às carreiras jurídicas, ou exigirem em
seu programa de estudo alguns conhecimentos específicos do Direito.
Atualmente o mercado
influencia a todos. Visto que a sociedade contemporânea tem sua estrutura muito
ligada ao consumismo. Tornou-se muito caro viver! Portanto, quando alguém pensa
em viver bem, logo cogita ter uma boa condição financeira e com isso a possibilidade
de um bom emprego com estabilidade é algo muito desejada. O que não quer dizer
que o mercado deva interferir na academia, que desenvolve (ou deveria) um
processo diferente do que o mercado oferece. A dinâmica educacional e de
aprendizado que espera-se (normalmente) de uma Universidade é mais voltada para
a ciência, o desenvolvimento do senso crítico, filosófico do saber. Mesmo
assim, a influência que o capitalismo exerce atualmente na vida e na sociedade
é tão significativa, que pode-se perceber claramente essa interferência do
mercado dentro da academia, mesmo que inconsciente ou simplesmente nas atitudes
e anseios dos alunos ou de alguns docentes.
É preciso refletir bastante
sobre a palavra vocação e o que ela pode expressar nos indivíduos. E, mais uma
vez, as questões e dificuldades enfrentadas pelas pessoas em suas casas,
famílias e vida social pode (não deveria) influenciar no que cada um entende
por vocação. No entanto, não descarto que de certo existem pessoas vocacionadas
para o Direito, como para a Medicina a Informática ou a Biologia. Aqui falo
numa perspectiva da palavra vocação (derivada do latim vocare- chamar), no
sentido da pessoa ter uma inclinação para determinada área de atuação.
Porém, cogito a possibilidade dessa pessoa
acreditar que tem essa vocação para determinada área e ao se ver vivenciando
essa possibilidade, repensar sua vocação pelas dificuldades, interferências ou
desvios que ocorrem dentro dos cursos ou nas situações que essa pessoa venha a
enfrentar no percurso para o qual acredita ser vocacionado. Outra reflexão
possível pode ser feita com relação às pessoas que tem vocação para mais de uma
profissão, isso é possível. Algumas pessoas gostam de várias carreiras
distintas, têm aptidões para várias coisas. E daí qual o critério que elas
podem usar para chegar a resposta sobre sua vocação principal? Se é que uma
aptidão se sobressai a outra.
Sinceramente nos dias atuais
não acredito em um interesse puro no estudo do Direito apenas por questões
científicas ou do conhecimento. Não conheço uma única pessoa que estude ou
deseje estudar o Direito pelo simples fato de amar esse saber. Criou-se um
ambiente imaginário que doura os ares dos estudantes e das carreiras jurídicas,
onde o dinheiro e a satisfação pessoal e social encantam os indivíduos,
levando-os a querer fazer parte desse grupo de pessoas - o grupo seleto de “intelectuais”
bem pagos que se enfiam no Direito a qualquer custo, na corrida pela
estabilidade financeira.
O ensino do direito virou um negócio, aliás um bom
negócio! A possibilidade de ganhar bem e ter em seu currículo uma graduação e/ou
diploma de um curso que historicamente rendeu sempre muito status no Brasil,
está formando cada vez mais “técnico”, e talvez não técnicos numa perspectiva
de pessoas tecnicamente aptas ao estudo específico do direito ou à função de
advogar (porque essa quase ninguém quer), mas sim, técnicos em provas de
concursos públicos - numa busca incessante por salários altos e uma vida mais confortável
possível.
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