terça-feira, 28 de março de 2017

Sobre o Brasil de hoje

Resolvi escrever uma carta a mim mesma. O motivo foi reportar a realidade brasileira atual a mim na posteridade. Espero ler esta carta numa conjuntura bem melhor, quem sabe daqui uns 10 ou 15 anos pra frente tudo esteja um pouco melhor...

O Brasil que vivenciamos hoje - Março de 2017 - está bem complicado, digo a situação social está caótica , economia em baixa, Direitos Constitucionais ameaçados, preconceito e ideologias sexistas ganhando espaço nas redes sociais, machismo tomando fôlego; e posso dizer que o tempo está bem cinzento. A democracia foi encoberta por nuvens de conservadorismo ultrapassado e rasgado.

Este atual cenário político do Brasil começou a se desenhar (em minha concepção), com a aceitação de uma questão processual, em 2 de dezembro de 2015, pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (um político nada ético, que está preso agora), de denúncia por crime de responsabilidade oferecida pelo procurador de justiça aposentado Hélio Bicudo e pelos advogados Miguem Reale Júnior e Janaina Pachoal. Eu, que acreditava ter a nossa sociedade alcançado um tantinho de evolução nessa conquista feminina e aceita pela nação, percebi que as coisas ficariam pior do que eu imaginava. Ter uma presidente mulher, neste país dominado por práticas masculinas não foi algo que a maioria deva ter engolido bem.

Além disso, penso que há alguns anos existe uma espécie de ranço contra as políticas que o governo petista vinha adotando. Coisas do tipo: pobre ter poder de compra, poder estudar, viajar de avião. A minha tese é a de que a burguesia nunca engoliu a classe trabalhadora ascender social e economicamente. Mas, essa é uma tese minha, algo baseada em observação. Não sou nenhuma cientista política, claro!

Fato é que deputados e senadores unidos derrubaram a presidente Dilma Rousseff, no dia 31 de agosto, numa votação com cartas marcadas, um dia terrível para a democracia brasileira. O motivo disseram eles, e gritaram alguns apoiadores da classe mais abastarda pelas ruas: o fim da corrupção.

Assumiu à Presidência da República o  vice Michel Temer, do PMDB. Para mim, jamais ganharia uma eleição no voto direto, pois é sem carisma algum, fraco e me remete um homem medroso e sem brio. Nasceu pra ser vice, e deveria ter caído com Dilma, já que fazia parte de sua chapa.

Naquele dia de agosto o Brasil assistiu atônito ao poder "emanado do povo", representado pelo voto - tão desvalorizado e nunca preferencial e gozado de importância por nós - em deputados e senadores. Porém, pode a sociedade brasileira ter a real noção da representatividade que eles têm nesse regime e modelo de governo que adotamos. "Pela minha família", diziam eles no microfone, justificando o seu voto a favor do impeachment. Nunca pelo povo, que lhe investiu de poder para estar ali, representando a coletividade e não aos seus próprios interesses.

O resultado desse processo : golpe. E agora, o governo vem mostrando suas garras, sendo colocadas em vigor uma série de medidas que vem retirando as conquistas sociais, conseguidas a duras penas pelo povo deste país. E hoje quem gritava pela saída de Dilma, e pelo fim da corrupção, parece ter se arrependido com os rumos que torceu para que o Brasil tivesse.

Trago um pequeno rol das medidas que Michel Temer, o presidente ilegítimo do Brasil vem estabelecendo nesse curto espaço de tempo que se tornou presidente:


Concessões e privatizações

Michel Temer publicou em 12 de maio, no mesmo dia em que tomou posse de maneira interina, uma medida provisória, número 727, que trata de parcerias entre a iniciativa privada e o Estado e de contratos de concessão relacionados a infraestrutura. O chamado Programa de Parcerias e Investimento (PPI) tem o objetivo de eliminar “entraves burocráticos e excesso de interferências do Estado que atrapalham as concessões”.

Mudanças nas regras do pré-sal

Temer anunciou que vai apoiar um projeto já aprovado pelo Senado que altera as regras de exploração do pré-sal. Esse projeto, de autoria do senador José Serra (hoje ministro das Relações Exteriores), retira da Petrobras a obrigação de participar com pelo menos 30% dos investimentos em todos os consórcios de exploração do petróleo ultra-profundo.
Estatizou a TV Brasil- 
No atual governo, o regimento da EBC foi alterado através da Medida Provisória nº 744 de 1º de setembro de 2016, transformando a emissora em uma empresa estritamente estatal, ou seja, completamente subordinada ao governo, decretando o fim de seu Conselho Curador e dando total poder ao Conselho de Administração, formado por seis indicados do governo e um empregado.
PEC da Previdência
Em 6 de dezembro, o governo apresentou ao Congresso, sem nenhuma consulta à sociedade, a PEC 287, maior e mais radical conjunto de mudanças na Previdência Social desde a promulgação da Constituição, em 1988. Apesar da falta de diálogo, entidades sindicais e movimentos sociais têm se organizado para debater o assunto e alertar a população para os efeitos das medidas em debate no Legislativo.
Terceirização 
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello notificou a Câmara Federal hoje (28) para que sejam dadas explicações sobre a aprovação do projeto de lei 4.302, que libera a terceirização nas atividades-fim das empresas, atendendo a um pleito do empresariado que pretende reduzir custos de mão de obra à revelia da CLT.
Muito se reclama nas redes sociais. Até quem pediu a saída da presidente Dilma, e comemorou o seu impeachment, hoje parece meio arrependido frente à tantas medidas nada populares. O povo está falando, reclamando, mas não está sendo ouvido; nas Casas Legislativas, continuam as aprovações sem a menor preocupação com o foro do povo.
A mídia apoia o governo e já se fala em estado de exceção.


segunda-feira, 13 de março de 2017

Se programe, mas viva!

"A vida é curta, então ame a sua vida. Seja feliz", disse o o poeta, dramaturgo e ator inglês Willian Shakespeare - se referindo ao um modo particular de ver e viver a vida; conceito explicado pela expressão latina "Carpe Diem". Há quem concorde com essa perspectiva, porém muitas pessoas atualmente optaram por planejar-se para um futuro, abdicando de uma vida satisfatória no presente e almejando sucesso profissional mais na frente - os concurseiros. 

Retirado de um poema de Horácio, o termo "Cape Diem" é popularmente traduzido como: "colha o dia ou aproveite o momento". É também utilizado como uma expressão para solicitar que se evite gastar o tempo com coisas inúteis ou como uma justificativa para o prazer imediato, sem medo do futuro. Um bom exemplo dessa compreensão de mundo pode ser vista na película "A Sociedade dos Poetas Mortos", obra do diretor Peter Wein, lançada em 1990. O filme traz a estória do professor de Inglês John Keating, introduzido a uma escola preparatória de meninos que é conhecida por suas antigas tradições e alto padrão. Ele usa métodos pouco ortodoxos para atingir seus alunos, que enfrentam enormes pressões de seus pais e da escola. Os alunos são incentivados a seguir seus sonhos e aproveitar cada dia, lema pregado pelo termo supra citado.


Todavia, atualmente é comum a manifestação de pessoas que se planejam com programas de estudos intensivos, buscando uma realização pessoal e profissional na aprovação de um bom concurso público. Estas pessoas dedicam muitas horas de seu tempo em esforços diários intelectuais e físicos até conseguirem a nomeação no cargo que almejam. Esse contexto criou o neologismo, a palavra "concurseiro" - que designa a pessoa que tem como principal meta passar em concurso público e assim se tornar um servidor público.

Portanto, temos aqui uma dicotomia; de um lado indivíduos que valorizam o prazer de um dia bem vivido, e por outro alguém que abdica da alegria do dia presente sonhando com uma felicidade e bem-estar futuros. Existe uma solução para a problemática? Podemos analisá-la citando um dado concreto, retirado de notícia do "Portal O Globo", que afirma ter sido o ano de 2016, recordista em homicídios no Brasil. Outra reportagem do "Portal G1" diz que o homicídio é a principal causa de jovens no país. Se levarmos em consideração esses dados possivelmente entraríamos num questionamento a respeito da aplicação do conceito de se programar para o futuro, pois muitos de nós não o teremos (segundo tais dados explicitados). Por outro lado, podemos observar a parcela significativa que compõe os números que completam as estimativas; e possibilitar a estas pessoas uma expectativa de vida mais longa e - com isso - o planejamento de uma vida futura. Talvez o mais indicado seja ter uma programação - com metas a médio prazo - sem deixar de aproveitar o dia, fazendo o momento (dentro do possível e da responsabilidade segura), valer a pena. Então, Carpe Diem! Mas, não se esqueça de se programar, que a felicidade virá.


quarta-feira, 8 de março de 2017

8 de Março

Neste dia 8 de março, que comemora-se o Dia Internacional da Mulher gostaria de homenageá-las falando sobre uma mulher chamada Maria e que muito me intriga até hoje.

A Maria sobre a qual falarei foi a minha mãe por um breve estalo de horas, apenas 4 - quase 5 anos. É difícil pensar nela sem emocionar-me; é pesaroso falar sobre e é angustiante escrever, pelo simples fato de eu não ter informações suficientes para tal.

Durante muito tempo eu soube quase nada. Uma coisa aqui, outra ali... Falas veladas de parentes, que quase sempre me relacionavam a uma lembrança triste - afinal a morte da minha mãe Maria, aos breves 43 anos de vida, num acidente de carro sem muitas explicações - estava entrelaçada à mim. Durante a minha infância e adolescência eu me sentia mal quando alguém me via e lembrava dela, se emocionava e me remetia ao fato de eu ter ficado órfã tão cedo.

Acredito que isso me fazia tão mal que eu na esperança de fugir daquela situação apaziguava o coração das pessoas dizendo: "Não tem problema, eu já me acostumei". Ou simplesmente fugia daqueles encontros emotivos. 

Eu me sentia frágil e estigmatizada pela dor que eu nem entendia, pois eu não lembrava de nada, inclusive não lembrava dela, da minha mãe. Esta falta de lembranças, de momentos, de afetos me fazia mal também, pois como eu não poderia me lembrar da minha mãe?

Por muitos anos - até bem pouco tempo - eu jamais quis saber sobre nada, não sabia detalhes e nem tampouco conhecia características pessoais dessa mulher. E, as poucas vezes que eu busquei informações, senti que o tempo não havia sido capaz de curar a ferida aberta naquela tarde de março. A conversa era sempre interrompida, embargada e acabava antes mesmo de começar. Então, eu me calava. Porém, vez ou outra eu sentia curiosidade e necessidade de saber mais.

Por causa desse hiato temporal silencioso, acabei perdendo muitas informações importantes sobre a minha mãe, pois mesmo as pessoas mais próximas tendem a apagarem fatos com o passar do tempo. O tempo é cruel com o passado, é como o vento que leva o nome escrito na areia.

Foi então que comecei a pensar que o meu trauma fora tão profundo, que deveriam passar-se anos até que eu pudesse reconhecer o tamanho da Maria em minha vida. Foram dias difíceis aqueles em que eu fui pouco a pouco me dando conta (por ocasião de momentos delicados em que vivi), da falta que uma mãe faz na vida de uma pessoa. Dias nublados, iguais aqueles de março se passaram...

Aos poucos eu fui tendo a coragem e a sabedoria de perguntar e de pensar sobre ela. E comecei a costurar uma colcha com os poucos retalhos que eu conseguir achar. Me perdoem se aqui terei algumas conjecturas irreais, porque alguns traços eu especulei, visto que fui impulsionada a interpretar os resquícios de uma mãe que não me sobrou muito.

O nome dela era Maria; Maria Da Paz Baracho Chaves. Ouvi falar que tinha uma personalidade forte, que era brava (em vários sentidos que esse vocábulo pode ter), vaidosa, independente. Me falaram também  - vejam só - que não era dada às tradições, mas que valorizava relações familiares. Uma mulher amiga, companheira, que nos anos de 1980, numa cidade interiorana como Acari, não tinha necessidade de casar, e o fez aos 29 anos de idade (muito tarde naquela época), casando-se com um homem mais novo 2 anos (incomum para os tempos também), mas que casou na igreja de vestido vermelho (eu nunca consegui saber o porquê) e achei uma tremenda ousadia! Ela dirigia, trabalhava, não gostava de frescura; inclusive ouvi relatos que foi pro hospital pari (me pari no caso), dirigindo ela mesma. Essa Maria fumava escondido do marido e havia decidido parar, porque sabia que poderia lhe trazer malefícios e ela precisava criar seus filhos (segundo relatos de uma prima). Sempre que me lembro dela meu coração aperta e os meus olhos marejam... Eu sinto não tê-la conhecido melhor, sinto por não saber qual a sua cor preferida ou o que gostava mais de fazer. O que eu sei é que ela era uma mulher cheia de vida e luz própria e que não sorria, ela gargalhava! Era a sua marca registrada; um som que eu não guardei em meus ouvidos. Às vezes, muitas vezes eu precisei estar em seu colo e não o tive, porém eu soube (me contaram), que este era o lugar em que eu mais estive enquanto ela esteve perto de mim; em seus braços. O colo de uma mãe é um lugar especial, e apesar de não ter esta lembrança, no fundo eu sei que estar lá foi perfeito. E sei que se ela aqui estivesse, este seria o meu lugar preferido no mundo. 

Neste dia tão especial para a luta das mulheres eu homenageio todas as mulheres, que assim como esta mulher foi todas as Marias em seu contexto social e familiar. Que todas possam ter o respeito que merecem e viver a vida que desejam viver.


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