Neste dia 8 de março, que comemora-se o Dia Internacional da Mulher gostaria de homenageá-las falando sobre uma mulher chamada Maria e que muito me intriga até hoje.
A Maria sobre a qual falarei foi a minha mãe por um breve estalo de horas, apenas 4 - quase 5 anos. É difícil pensar nela sem emocionar-me; é pesaroso falar sobre e é angustiante escrever, pelo simples fato de eu não ter informações suficientes para tal.
Durante muito tempo eu soube quase nada. Uma coisa aqui, outra ali... Falas veladas de parentes, que quase sempre me relacionavam a uma lembrança triste - afinal a morte da minha mãe Maria, aos breves 43 anos de vida, num acidente de carro sem muitas explicações - estava entrelaçada à mim. Durante a minha infância e adolescência eu me sentia mal quando alguém me via e lembrava dela, se emocionava e me remetia ao fato de eu ter ficado órfã tão cedo.
Acredito que isso me fazia tão mal que eu na esperança de fugir daquela situação apaziguava o coração das pessoas dizendo: "Não tem problema, eu já me acostumei". Ou simplesmente fugia daqueles encontros emotivos.
Eu me sentia frágil e estigmatizada pela dor que eu nem entendia, pois eu não lembrava de nada, inclusive não lembrava dela, da minha mãe. Esta falta de lembranças, de momentos, de afetos me fazia mal também, pois como eu não poderia me lembrar da minha mãe?
Por muitos anos - até bem pouco tempo - eu jamais quis saber sobre nada, não sabia detalhes e nem tampouco conhecia características pessoais dessa mulher. E, as poucas vezes que eu busquei informações, senti que o tempo não havia sido capaz de curar a ferida aberta naquela tarde de março. A conversa era sempre interrompida, embargada e acabava antes mesmo de começar. Então, eu me calava. Porém, vez ou outra eu sentia curiosidade e necessidade de saber mais.
Por causa desse hiato temporal silencioso, acabei perdendo muitas informações importantes sobre a minha mãe, pois mesmo as pessoas mais próximas tendem a apagarem fatos com o passar do tempo. O tempo é cruel com o passado, é como o vento que leva o nome escrito na areia.
Foi então que comecei a pensar que o meu trauma fora tão profundo, que deveriam passar-se anos até que eu pudesse reconhecer o tamanho da Maria em minha vida. Foram dias difíceis aqueles em que eu fui pouco a pouco me dando conta (por ocasião de momentos delicados em que vivi), da falta que uma mãe faz na vida de uma pessoa. Dias nublados, iguais aqueles de março se passaram...
Aos poucos eu fui tendo a coragem e a sabedoria de perguntar e de pensar sobre ela. E comecei a costurar uma colcha com os poucos retalhos que eu conseguir achar. Me perdoem se aqui terei algumas conjecturas irreais, porque alguns traços eu especulei, visto que fui impulsionada a interpretar os resquícios de uma mãe que não me sobrou muito.
O nome dela era Maria; Maria Da Paz Baracho Chaves. Ouvi falar que tinha uma personalidade forte, que era brava (em vários sentidos que esse vocábulo pode ter), vaidosa, independente. Me falaram também - vejam só - que não era dada às tradições, mas que valorizava relações familiares. Uma mulher amiga, companheira, que nos anos de 1980, numa cidade interiorana como Acari, não tinha necessidade de casar, e o fez aos 29 anos de idade (muito tarde naquela época), casando-se com um homem mais novo 2 anos (incomum para os tempos também), mas que casou na igreja de vestido vermelho (eu nunca consegui saber o porquê) e achei uma tremenda ousadia! Ela dirigia, trabalhava, não gostava de frescura; inclusive ouvi relatos que foi pro hospital pari (me pari no caso), dirigindo ela mesma. Essa Maria fumava escondido do marido e havia decidido parar, porque sabia que poderia lhe trazer malefícios e ela precisava criar seus filhos (segundo relatos de uma prima). Sempre que me lembro dela meu coração aperta e os meus olhos marejam... Eu sinto não tê-la conhecido melhor, sinto por não saber qual a sua cor preferida ou o que gostava mais de fazer. O que eu sei é que ela era uma mulher cheia de vida e luz própria e que não sorria, ela gargalhava! Era a sua marca registrada; um som que eu não guardei em meus ouvidos. Às vezes, muitas vezes eu precisei estar em seu colo e não o tive, porém eu soube (me contaram), que este era o lugar em que eu mais estive enquanto ela esteve perto de mim; em seus braços. O colo de uma mãe é um lugar especial, e apesar de não ter esta lembrança, no fundo eu sei que estar lá foi perfeito. E sei que se ela aqui estivesse, este seria o meu lugar preferido no mundo.
Neste dia tão especial para a luta das mulheres eu homenageio todas as mulheres, que assim como esta mulher foi todas as Marias em seu contexto social e familiar. Que todas possam ter o respeito que merecem e viver a vida que desejam viver.
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