Esta semana 7 pessoas, suspeitas de fazerem parte de uma quadrilha, foram mortos em Currais Novos. Muito se falou e até se comemorou por causa da ação certeira da polícia e o fato de terem eles (os suspeitos), sido interceptados e mortos antes do provável crime.
Falo dessa forma porque não tenho informações seguras sobre as investigações e o ocorrido, não tenho fonte na polícia nem entre os envolvidos. Também não é o caso, visto que esse texto não é e nem se propõe a ser uma notícia.
O que se sucedeu após esse fato foram: vídeos, imagens, comentários, comemorações, e uma enxurrada de discursos nas redes sociais. Acredito, que a maioria deles, motivada pelo sentimento de desproteção e indignação que nós cidadãos contemporâneos temos, diante da falta de ações eficazes nas áreas básicas da administração estatal brasileira, destacando aqui a Segurança Pública.
De certa forma, podemos compreender os aplausos como uma forma da população enxergar a vitória do bem contra o mal. A polícia (os heróis) venceram (nesse episódio) os bandidos (o mal).
Porém, nesse ínterim, alguém lançou um olhar a partir de outra perspectiva; percebendo que a euforia que se proliferou nas mídias sociais não fora apenas repercutindo uma ação investigativa da polícia, onde uma ação criminosa foi impedida de ser praticada. Esse olhar denunciou o aplauso desenfreado, o discurso exacerbado de uma super exposição de carnificina e morte, onde corpos de pessoas eram vistos e revistos e as sua condições de pessoas esquecidas por completo. Veja, eu não estou defendendo o crime e nem estou contra a polícia! De jeito nenhum.
Acho válido pensar também por esse lado, e digo porque. Primeiro, porque certamente todas aquelas pessoas, apesar de suspeitos, são cidadãos brasileiros, e portanto tão gente quanto eu e você. Elas têm famílias e amigos e eram suspeitos, não eram pelos menos até onde sabemos, criminosos. E mesmo se fossem, ainda assim todos sabemos teriam direitos garantidos pela Constituição Federal de 1988, assim como qualquer um de nós.
Outro ponto que talvez nenhum de nós tenha avaliado foi o risco que aqueles indivíduos participantes dessa ação correram, como também todos aqueles que por algum motivo tenha estado por ali naqueles instantes. Já pensou se você precisasse viajar naquele exato momento, e despretensiosamente coincidisse o horário da ação com o que você trafegasse com o seu veículo pela rodovia? Certamente você não gostaria de, apesar de bem sucedida a ação, ter sido você envolvido, baleado, feriado ou morto no confronto.
Agora, dentre tantos fatores que esse caso despertou no âmago da sociedade, em minha opinião o mais grave deles, é sem dúvida, algo que recentemente vem sendo reproduzido dia a dia. Estamos usando a internet e suas ferramentas para expor a nós mesmos. E o que é pior nós não nos expomos (porque isso seria até mais aceitável). Você tem o direito de se expor! Estamos expondo o outro, quando muitas vezes ele próprio não tem a menor chance de se defender diante daquilo ou de opinar sobre aquela exposição.
Pense bem! O costume que ocorre atualmente, quando todos nós temos ao nosso alcance câmeras, redes sociais, celulares modernos... Não é usado apenas na exposição de "bandidos". Nós expomos amigos, namoradas ou qualquer pessoa que julgamos ter o direito de fazê-lo. O outro virou alvo da minha ilustríssima vontade, nós estamos no comando, essa é a verdade.
E salve-se quem puder!