sábado, 2 de maio de 2015

Menos bala e mais giz

Foto: Giuliano Gomes.

Não sei nem por onde começar a falar sobre esse triste acontecimento contra os professores em Curitiba, no Paraná. Este 29 de abril (quarta-feira) foi desenhado dois dias antes, quando o projeto de lei da Paraná Previdência foi votado em primeiro turno, na AL do Paraná. Dali para frente o cenário já ganhava ares de repressão, porque a justiça impediu que os manifestantes pudessem entrar nas galerias do plenário para assistir a sessão da quarta, e o presidente da Casa já armou sua estratégia, trazendo a PM para reforçar a segurança da próxima sessão e cercar o lugar.

O que eu acho interessante é que lá fora os professores (o povo) fora tratado como bandidos, quando os deputados (que deveriam representar justamente esse povo) lá dentro permaneciam seguros e protegidos de toda agressão. No Brasil é sempre assim; os políticos têm regalias, o rico tem preferência. Ao povo: violência, insegurança, desrespeito.

Basta assistir às imagens do confronto desta semana e perceber professores, crianças, pessoas como eu e você, que trabalhavam ou passavam pelo local, totalmente apavoradas com aquela cena que presenciava. Até mesmo os repórteres que cobriam tudo corriam de um lado pro outro - tentando fazer o trabalho deles e, ao mesmo tempo, se proteger daquilo tudo.

Vi uma cena muito significativa de uma criança chorando nos braços da mãe dizendo que estava com medo. A filha estava numa creche lá por perto e presenciou as cenas de guerra sem entender nada, mas como poderia ela entender, como poderia a sua mãe explicar? Filha, estão jogando bombas contra os professores! Aqueles dos quais passaremos a vida inteira recebendo lições de como ser um cidadão, de quem absorveremos tantos ensinamentos. 

Aqueles policiais, aqueles deputados com certeza tiveram muitos professores, e naquele momento, infelizmente não demonstraram nenhuma gratidão ou respeito por essa classe de profissionais tão importante para nossa sociedade e o nosso país.

O fato é que o aparato policial foi montado em frente a Assembleia Legislativa, para assim proteger os deputados que lá dentro votariam em definitivo o projeto. A ação dos PMs foi, sem dúvida nenhuma, desproporcional; os professores eram o contraditório, e poderiam ser. Não há mal em discordar, nem tampouco  expressar esse descontentamento. É o que todos nós sabemos, vivemos em uma democracia, que  a cada dia nos poda nossos direitos mais fundamentais. A nossa Constituição Federal está fadada ao fracasso, pois cotidianamente é infringida sem dó e  piedade diante de todos! 

O Brasil têm leis para nada, ninguém respeita e ninguém cumpre! Vejo ultimamente pessoas desesperadas evocando a volta da Ditadura Militar. Como assim? É o retrocesso total. Nós não temos sequer o direito de cogitar uma coisas dessas, é totalmente desumano pensar nisso.

Sobre as imagens mostradas na TV vi policiais (funcionários públicos) que são treinados para lidar com bandidos, ferindo outros funcionários públicos, treinados para ensinar entre outras coisas a cidadania, dizendo com gestos que cidadania não se tolera no Brasil. Se lá eu estivesse me sentiria humilhada pelo desrespeito à nossa essência de cidadão (de pessoas livres). E presenciar aquilo deve ter sido terrível, devastador!

Quando são chamados a defender a população do crime talvez os responsáveis pela Segurança Pública (e aqui me refiro ao poder, ao comando e não aos comandados- que têm sua culpa também, claro) não empreguem a força demandada para tal. As cenas de guerra se contradizem com a luta travada pelo professores que ali estiveram; cidadãos que pelo simples fato de protestar contra algo, foram violentados física e moralmente.

As bombas, o gás, os cães, a truculência foram desmedidas. O povo lamenta o sangue e as feridas que demorarão a cicatrizar nos rostos e na alma de quem presenciou ou assistiu aquelas terríveis cenas. Eu me sinto profundamente tocada ao rever as imagens daquela barbárie!

O 29 de abril de 2015 entrou pra história do Brasil como um dia de lamento, um dia em que, mais uma vez, o brasileiro teve a sua dignidade manchada. Os professores, os deputados, os policiais, as autoridades, todos. Daí vem o governador Beto Richa dizer numa entrevista que os policiais apenas se defenderam. Por favor, as imagens dizem tudo.  Cale-se, envergonhe-se e retrate-se!

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