Resolvi escrever uma carta a mim mesma. O motivo foi reportar a realidade brasileira atual a mim na posteridade. Espero ler esta carta numa conjuntura bem melhor, quem sabe daqui uns 10 ou 15 anos pra frente tudo esteja um pouco melhor...
O Brasil que vivenciamos hoje - Março de 2017 - está bem complicado, digo a situação social está caótica , economia em baixa, Direitos Constitucionais ameaçados, preconceito e ideologias sexistas ganhando espaço nas redes sociais, machismo tomando fôlego; e posso dizer que o tempo está bem cinzento. A democracia foi encoberta por nuvens de conservadorismo ultrapassado e rasgado.
Este atual cenário político do Brasil começou a se desenhar (em minha concepção), com a aceitação de uma questão processual, em 2 de dezembro de 2015, pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (um político nada ético, que está preso agora), de denúncia por crime de responsabilidade oferecida pelo procurador de justiça aposentado Hélio Bicudo e pelos advogados Miguem Reale Júnior e Janaina Pachoal. Eu, que acreditava ter a nossa sociedade alcançado um tantinho de evolução nessa conquista feminina e aceita pela nação, percebi que as coisas ficariam pior do que eu imaginava. Ter uma presidente mulher, neste país dominado por práticas masculinas não foi algo que a maioria deva ter engolido bem.
Além disso, penso que há alguns anos existe uma espécie de ranço contra as políticas que o governo petista vinha adotando. Coisas do tipo: pobre ter poder de compra, poder estudar, viajar de avião. A minha tese é a de que a burguesia nunca engoliu a classe trabalhadora ascender social e economicamente. Mas, essa é uma tese minha, algo baseada em observação. Não sou nenhuma cientista política, claro!
Fato é que deputados e senadores unidos derrubaram a presidente Dilma Rousseff, no dia 31 de agosto, numa votação com cartas marcadas, um dia terrível para a democracia brasileira. O motivo disseram eles, e gritaram alguns apoiadores da classe mais abastarda pelas ruas: o fim da corrupção.
Assumiu à Presidência da República o vice Michel Temer, do PMDB. Para mim, jamais ganharia uma eleição no voto direto, pois é sem carisma algum, fraco e me remete um homem medroso e sem brio. Nasceu pra ser vice, e deveria ter caído com Dilma, já que fazia parte de sua chapa.
Naquele dia de agosto o Brasil assistiu atônito ao poder "emanado do povo", representado pelo voto - tão desvalorizado e nunca preferencial e gozado de importância por nós - em deputados e senadores. Porém, pode a sociedade brasileira ter a real noção da representatividade que eles têm nesse regime e modelo de governo que adotamos. "Pela minha família", diziam eles no microfone, justificando o seu voto a favor do impeachment. Nunca pelo povo, que lhe investiu de poder para estar ali, representando a coletividade e não aos seus próprios interesses.
O resultado desse processo : golpe. E agora, o governo vem mostrando suas garras, sendo colocadas em vigor uma série de medidas que vem retirando as conquistas sociais, conseguidas a duras penas pelo povo deste país. E hoje quem gritava pela saída de Dilma, e pelo fim da corrupção, parece ter se arrependido com os rumos que torceu para que o Brasil tivesse.
Trago um pequeno rol das medidas que Michel Temer, o presidente ilegítimo do Brasil vem estabelecendo nesse curto espaço de tempo que se tornou presidente:
Concessões e privatizações
Michel Temer publicou em 12 de maio, no mesmo dia em que tomou posse de maneira interina, uma medida provisória, número 727, que trata de parcerias entre a iniciativa privada e o Estado e de contratos de concessão relacionados a infraestrutura. O chamado Programa de Parcerias e Investimento (PPI) tem o objetivo de eliminar “entraves burocráticos e excesso de interferências do Estado que atrapalham as concessões”.
Mudanças nas regras do pré-sal
Temer anunciou que vai apoiar um projeto já aprovado pelo Senado que altera as regras de exploração do pré-sal. Esse projeto, de autoria do senador José Serra (hoje ministro das Relações Exteriores), retira da Petrobras a obrigação de participar com pelo menos 30% dos investimentos em todos os consórcios de exploração do petróleo ultra-profundo.
Estatizou a TV Brasil-
No atual governo, o regimento da EBC foi alterado através da Medida Provisória nº 744 de 1º de setembro de 2016, transformando a emissora em uma empresa estritamente estatal, ou seja, completamente subordinada ao governo, decretando o fim de seu Conselho Curador e dando total poder ao Conselho de Administração, formado por seis indicados do governo e um empregado.
PEC da Previdência
Em 6 de dezembro, o governo apresentou ao Congresso, sem nenhuma consulta à sociedade, a PEC 287, maior e mais radical conjunto de mudanças na Previdência Social desde a promulgação da Constituição, em 1988. Apesar da falta de diálogo, entidades sindicais e movimentos sociais têm se organizado para debater o assunto e alertar a população para os efeitos das medidas em debate no Legislativo.
Terceirização
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello notificou a Câmara Federal hoje (28) para que sejam dadas explicações sobre a aprovação do projeto de lei 4.302, que libera a terceirização nas atividades-fim das empresas, atendendo a um pleito do empresariado que pretende reduzir custos de mão de obra à revelia da CLT.
Muito se reclama nas redes sociais. Até quem pediu a saída da presidente Dilma, e comemorou o seu impeachment, hoje parece meio arrependido frente à tantas medidas nada populares. O povo está falando, reclamando, mas não está sendo ouvido; nas Casas Legislativas, continuam as aprovações sem a menor preocupação com o foro do povo.
A mídia apoia o governo e já se fala em estado de exceção.
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