sábado, 14 de junho de 2014

O gol contra do Brasil

Artigo 

Por Milena Chaves

O primeiro gol do Brasil foi contra. Mas infelizmente não me refiro ao gol contra de Marcelo, aquele do primeiro jogo (Brasil X Croácia), da última quinta-feira (12) em São Paulo. O gol contra ao qual me refiro na verdade foram gols contra marcados mesmo antes da bola rolar de fato na Arena Corinthians. Foram gols que não precisaram de bolas para seres marcados.

Primeiro: sobre a hostilidade e a falta de educação daqueles que foram ao estádio e com isso, pressupõe-se tinham condições financeiras não apenas de comprar ingressos caros e estar num dos jogos mais aguardados desta Copa (o da abertura e estreia da nossa seleção na Copa), pessoas que muito possivelmente tenham tido acesso à Educação e Cultura e de quem “se esperaria” mais que palavras de baixo calão direcionadas à uma Presidente da República.

Segundo, que cerimônia foi aquela? Dirigida por uma estrangeira? Quantos artistas e coreógrafos talentosos podem ter o nosso Brasil? Não vi a menor graça em exibir Jennifer Lopez (que apesar de ter origem latina, é tão americanizada quanto Madonna), sobre o tal PitBull não preciso nem comentar porque ele nem ritmo tinha. Um querendo brilhar mais que o outro, ser mais sexy sem interação nenhuma entre eles! Na minha opinião, deveriam ter convidado apenas artistas tupiniquins, o que valorizaria nossa cultura popular e deixaria a festa mais bonita e verde e amarela, como deveria ser de fato.

Terceiro ponto e na minha opinião o mais relevante de todos. Como um país que busca um lugar ao sol, consegue ignorar uma experiência simplesmente espetacular como a do exoesqueleto de Miguel Nicolelis? Um cientista brasileiro já indicado ao prêmio Nobel de Medicina, e desenvolve projetos na área de Neurociência no Nordeste brasileiro, o último lugar que se pode cogitar fazer ciência nesse Brasil e ainda por cima tem sua experiência boicotada pela Fifa e por uma transmissão simplória, que fez do ponto culminante do espetáculo  um fato simples e cotidiano. Como se um paraplégico pudesse caminhar e chutar uma bola todos os dias! Eu me perguntava, a todo o momento, quando chegaria a hora do caminhar do PRO- Santos Dumont (nome dado ao robô)? O programado era para que o jovem levantasse de sua cadeira de rodas e andasse por 25 metros até o chute na Brazuca. Então, fui informada que já havia acontecido o chute e que mal tinha sido mostrado. O milagre do “levanta-te e anda” (desta vez tecnológico), fora ignorado pela Fifa, pela TV e por todos nós.

Eu simplesmente não entendi até agora. Chocou-me perceber que o Brasil ainda não conseguiu dar valor ao que tem valor. Eu e acredito que muitos brasileiros geraram uma grande expectativa  em torno desse momento de glória da nossa ciência, quando o mundo poderia enxergar que nós também somos capazes de crescer científica e tecnologicamente. Isso me fez refletir sobre o valor que as coisas têm, e sobre o valor que damos ao que tem e ao que não tem tanto valor assim. Não desmereço a arte de ninguém, a cultura e nem a música, todavia, eu não consigo nem no mais louco devaneio que me permito ousar ter, concluir que um show de dança e música dublado pode ser mais importante do que um avanço científico como o "Projeto Andar de Novo", e o que ele pode vir a oferecer à vida dos que têm paralisias, e dependem desesperadamente dessa pesquisa para viver de forma mais digna. Uma experiência bem sucedida que terá efeitos sobre o mundo inteiro.

Eu não entendi aquela cerimônia de abertura da Copa, não entendi o que Cláudia Leite, PitBull e Jennifer Lopez estavam cantando (aquele áudio estava terrível). Não entendi o que aqueles burgueses mal criados estavam reivindicando, e estou esperando até agora ansiosamente para ver aquele jovem paraplégico caminhar e chutar a bola. Eu não entendi foi nada, confesso. Imagino que tenha sido porque a cerimônia de abertura da Copa 2014, no Brasil, não foi um espetáculo brasileiro para o povo brasileiro e pelo povo brasileiro. Aquilo foi coisa pra inglês ver!


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